segunda-feira, 29 de setembro de 2008

A Revolução Conceitual (Apresentação do Blog)

A década de 1960 sempre foi vítima de saudáveis nostalgias por grande parte da juventude dos tempos que a sucederam. E, geralmente, os que exprimem essa nostalgia são justamente os que nutrem uma paixão, que às vezes chega a ser quase um culto, por um gênero que sofreu suas maiores e mais importantes transformações exatamente nos chamados "anos dourados": o Rock. A música Rock, surgida nos EUA na década de 1950, rapidamente se disseminou pelo ocidente inteiro - e não muito depois, para todos os cantos do mundo. Motivos econômicos, ja que os EUA já eram o país mais rico do mundo à época, e ainda de imposição cultural podem ser alegados para justificar, e criticar, essa disseminação do Rock pelo mundo; mas a verdade é que nada disso importa tanto, não diminui o valor artístico de nada. Nesse aspecto, foi até bom, já que todos pudemos ter acesso a um estilo de música tão revolucionário. Um dos méritos do rock norte-americano, aliás, é justamente o de criticar o modo como os EUA utilizam sua soberania econômica apenas em prol de si mesmo.



A década de 1960 foi palco de algumas das mais efetivas tentativas de ruptura com as antiquadas convenções sociais (e acabou por criar outras, mas essa é outra história) que houve no século XX no ocidente. E a revolução que ocorreu na música nesse período estava intrinsecamente ligada, talvez como nunca antes, às revoluções comportamentais de toda uma geração. É nessa época que o rock incorpora, com força total, as idéias de liberdade, de transgressão, de contestação das injustiças sociais, de combate ao racismo e às guerras, do clamor pela paz e da adoção de práticas (como consumo de drogas ou o chamado "amor livre") que não eram tidas como "aceitáveis" pela sociedade. É nesse contexto, também, que surgem os grandes festivais e o movimento hippie, por exemplo. O rock, na verdade, desde sua concepção já quebrou barreiras até então não quebradas, já que se origina basicamente, nos EUA, da mistura entre influências de música negra - o rythm 'n blues e o jazz - e o country, música tocada pelos camponeses brancos. Vale lembrar que a segregação racial nos EUA nessa época era tamanha que misturas assim eram praticamente inconcebíveis.




A ativa participação da música e cultura rock nas revoluções comportamentais se acoplou à uma transformação conceitual do rock como música. Se antes o rock era representado por canções estruturalmente simples, num ritmo sempre dançante, ligado a festas e celebrações e com letras não muito ambiciosas, tudo isto é completamente desconstruído ao longo da década de 60. Experimentação musical, busca por sonoridades inusitadas e letras artisticamente mais elaboradas tomam conta da cena do rock. Ao fim da década de 1960, o patamar de diversidade e complexidade musical em que o rock está, se comparado com o final da década anterior, é gritante. Depois daquilo, nada mais podia ser novidade; ou, pelo menos,nada podia ser tão novidade assim.







Este blog vai tentar se infiltrar pelas trincheiras desse fabuloso mundo que é o da música dos anos sessenta, que tanto influencia os tempos modernos. É um mundo repleto de lendas, mitos, grandes personalidades e fantásticas histórias, mas, acima de tudo, música, muita música. O foco vai ser mesmo o rock, porém outros estilos da época certamente terão espaço, especialmente a música brasileira; com algum destaque para o tropicalismo e, é claro, o rock brasileiro, cuja "cara" começava a se formar justamente nessa época.

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