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quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Altamont Free Concert (Parte 2)

A organização da segurança do Altamont Free Concert foi confusa e malfeita e, até hoje, gera muitas controvérsias sobre porque de fato os Hells Angels fizeram a segurança e como foram as negociações. A certeza é que eles, desse grupo de motoqueiros chamado Hells Angels (ou Anjos do Inferno) acabaram "cobrindo" a função de orientar e policiar. Diz-se que os Angels receberam um pagamento de 500 dólares em cerveja (eles gostavam de cerveja) pelo serviço prestado.

Os Hells Angels, com suas jaquetas de couro e motos estacionadas, fazem a "segurança" do Altamont Free Concert

Acontece que os Hells Angels são, em geral, seres brutos e truculentos, que batiam com tacos de sinuca naqueles que tentavam subir no palco... Enfim, o fato é que, culpa dos Hells Angels ou de quem quer que seja, a segurança foi muito malfeita. A confusão foi imensa; a impressão que se tem é de que não havia ordem ou controle algum sobre todas aquelas pessoas, e conforme o tempo foi passando, os próprios Angels iam ficando mais e mais bêbados e agitados, e a platéia, mais violenta. Percebam no vídeo do Jefferson Airplane do post anterior que acontece uma discussão, no palco mesmo, entre um membro da banda e um membro dos Angels. Isso porque um membro do Jefferson Airplane, Martin Bali, fora derrubado inconsciente por um membro dos Hells Angels. No vídeo, a vocalista diz (tradução livre): "É preciso de gente como os Angels para impedir as pessoas de agir dessa maneira (...) mas os próprios Angels... Não se bate em pessoas assim, por nada". Depois do incidente com Martin Balin, o Grateful Dead se recusou a tocar, e não tocou mesmo. Conforme o dia foi passando, as confusões só pioraram.
Porém, como tudo que está ruim pode ficar muito pior, o incidente que marcaria aquela noite ainda iria acontecer, mais tarde, durante a apresentação dos Rolling Stones. Meredith Hunter, um jovem negro, portava uma pistola e, em um dos tumultos, foi esfaqueado até a morte por um membro dos Hells Angels chamado Alan Passaro. Após inúmeras polêmicas, Passaro foi inocentado alegando legítima defesa; os membros do Hells Angels, em sua defesa, alegam que Passaro apenas desferiu as facadas após Hunter ter sacado sua pistola em meio à tamanha multidão. Em 2005, inclusive, houve uma revisão do caso em que uma versão especial do filme que capturou a cena, mais detalhada e lenta, foi feita para a Polícia, que reconfirmou a versão dos Angels de que Hunter havia sim sacado a arma antes das facadas. Acredita-se que a suposta intenção de Hunter seria matar Mick Jagger.

Em destaque Meredith Hunter, esfaqueado até a morte por um membro dos Hells Angels

A repercussão dos incidentes do festival foi gigantesca. A revista Rolling Stone lançou, na época, uma edição falando praticamente apenas do festival e criticando de todas as formas os Rolling Stones e a precária organização do evento. Na reportagem consta uma entrevista com David Corsby, cujo trecho foi retirado deste site:
"Diz Crosby: 'Acho que os Rolling Stones ainda estão em 1965. Eles não sabem que uma força para segurança não é mais uma necessidade. Não eram necessários os Hell's Angels. Não estou falando mal deles, até mesmo porque não é saudável, e afinal, eles apenas fizeram o que se espera deles. Os Stones não conhecem os Hell's Angels. Para eles, os Angels é um meio caminho entre Peter Fonda e Denis Hooper e isto não é a realidade... Não considero os Angels o principal erro. Apenas o mais óbvio. Considero o principal erro sendo pegar o que essencialmente seria uma festa e transformá-la em uma ego trip. (...) Tenho certeza que eles não entenderam o que eles fizeram no último sábado. Acredito que eles tem uma visão exagerada de sua importância. Acho que eles estão numa ego trip grotesca. Uma trip essencialmente negativa, principalmente seus dois líderes. Conversei várias vezes com o pessoal dos Stones. Eu os considero esnobes."

O saldo do festival acabou sendo de -2 vidas, porque houve 4 mortes (além de Hunter, duas pessoas morreram atropeladas e uma morreu afogadas), porém houve também 2 nascimentos.
Ah...fiquem com Sympathy for the Devil, Under My Thumb e interrupções (demora para carregar, mas vale a pena):


terça-feira, 11 de novembro de 2008

Altamont Free Concert (Parte 1)

Ainda continuando os posts sobre festivais, vou falar agora sobre o que é talvez o mais infame festival da história da música: o Altamont Free Concert.


Trailer do filme Gimme Shelter, documentário sobre o Altamont Free Concert

No trailer acima, em determinado momento se reproduz a fala de um locutor de rádio: " Deixe-me repetir: O show gratuito dos Rolling Stones vai ser amanhã, na estrada de Altamont. Aparentemente, uma das coisas mais difíceis no mundo é se promover um show de graça".
Em 1969, Depois de uma tour de muito sucesso pelos EUA, os Rolling Stones andavam sendo "acusados" de lucrar com tantos shows... Resolveram então anunciar que fechariam a turnê com um show gratuito, em São Francisco; um modo de agradecer o seu público tão fiel e adorável. Convidaram Santana, Jefferson Airplane, The Flying Burrito Brothers, Crosby, Stills, Nash and Young e The Grateful Dead para tocar no grande show - todos artistas top de linha, muito famosos à época - e, claro, eles próprios, os Rolling Stones, fechariam a noite como atração principal. 300.000 pessoas compareceram a esse festival que tinha tudo para dar certo e ser um sucesso, mas que infelizmente acabou em desastre. Toda a aura que circulava em torno do Rock, dos Hippies, dos adeptos da contracultura, caiu por terra nesse show, que acabou mostrando que os que seguiam tal rebeldia protestante (não a religião, pelo amor de Deus), que clamavam por paz, eram pessoas talvez não tão diferentes; que podiam ser tão agressivas e violentas quanto quaisquer outras. Os fatídicos acontecimentos do festival (calma, vou especificar quais foram mais adiante) ainda deram força ao antigo discurso de que a música Rock estava ligada ao vandalismo, à rebeldia sem causa, etc. Ao contrário do festival de Woodstock, cujo sucesso simbolizou o ápice de todos esses movimentos alternativos, o Altamont Free Concert entrou na lista dos infames acontecimentos que, no fim da década de 60, simbolizaram o declínio e a desmoralização da contracultura, do movimento hippie e do rock (na "lista" estão também casos como os assassinatos da seita de Charles Manson e seus seguidores, que, querendo ou não, abalaram a reputação dos Beatles; e a morte prematura de artistas-símbolo como Brian Jones, Jimi Hendix, Janis Joplin eJim Morrison). Mas enfim, voltando ao festival de Altamont, dê uma olhada num trecho da apresentação do Jefferson Airplane e perceba o caos e a desordem. Tiveram que interromper a apresentação devido a confusões violentas e tumultos:


Continua no próximo post...


quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Festival de Woodstock (1969)


Cartaz promocional do festival, divulgado à época (para quem, como eu, não tinha entendido o que é "isso" em cima do braço da guitarra,saiba que não é uma cabeça de gato caolho torta e exótica, mas um pássaro). O grande slogan era: 3 Dias de paz e música.

Continuando o posto anterior, vou falar um pouco sobre o festival de Woodstock. Há uma imensa aura mítica em torno do festival de Woodstock de 1969 que o transformou numa lenda. É, dentre todos os festivais de música que houve talvez em toda a história, o mais lembrado; o mais revisto; o mais comentado; o mais citado; o mais analisado; o mais importante; o mais influente... Enfim, Woodstock é "o mais" muitas e muitas vezes. Mas porque?
O "Festival de Música e Artes de Woodstock" aconteceu num imenso terreno em Bethel, sul do vilarejo de Woodstock, no estado de Nova York. Durante três dias, de 15 a 18 de Agosto de 1969, centenas de milhares de jovens se reuniram para clamar por "paz e amor" e assistir a alguns dos mais célebres grupos e artistas musicais da época. O festival foi totalmente dominado pelas idéias do movimento Hippie; foi, na verdade, o auge do movivento Hippie. Woodstock só se tornou realidade devido ao empenho de quatro jovens: Michael Lang, John Roberts, Joel Rosenman, e Artie Kornfeld. Foram eles que idealizaram, organizaram e, com muito esforço e dificuldades, fizeram o festival acontecer. Haviam vendido cerca de 180.000 ingressos antecipadamente, portanto esperavam a presença de cerca de 200.000 pessoas; porém, a demanda acabou sendo muito maior do que eles esperavam. Depois, as cercas que delimitavam o local acabaram sendo propositalmente retiradas para a entrada das cerca de 500.000 pessoas que acabaram comparecerendo. Sim, a maioria sequer pagou ingresso, o que só serviu para aumentar ainda mais a idéia de "liberdade" do evento, onde drogas, sexo e mentes eram totalmente livres.


Público de quase meio milhão de pessoas compareceu a Woodstock.

Havia um senso de harmonia entre toda aquela gente ali, junta. As idéias de celebração, de diversão, de liberdade eram acopladas ao clamor por paz, por fim das guerras e do racismo. Os EUA, na época, eram envolvidos em conflitos militares no exterior; e, no interior, enfrentavam sérias desavenças raciais, portanto o festival de Woodstock foi, também, um movimento social. Impressionante como, num evento onde tantas pessoas se reuniram sem nenhuma ordem aparente, sem aparato de segurança suficente para tanta gente, houve pouquíssimos incidentes graves ou violência. Imaginem quantas possibilidades de desastres havia num quadro como esse, porém há registro de duas mortes - uma por overdose de heroína e outra por um saco de dormir ocupado que foi acidentalmente pisoteado. Apesar desses tristes episódios, a verdade é que a paz, de fato, reinou. Esse clamor por paz não foi apenas falação, não foi apenas propaganda, não foi da boca para fora; a paz aconteceu ali. Tantas pessoas, ali reunidas, não estavam apenas de brincadeira, elas queriam levantar sua bandeira, e que ela fosse vista.

Tudo isso sem ao menos falar da qualidade musical das apresentações que banharam Woodstock. Diversos artistas realizaram performances históricas, como Jimi Hendrix; The Who; Janis Joplin; Jefferson Airplane; Joe Cocker; Santana... Enfim, a lista completa (inclusive com repertório) dos artistas que se apresentaram, está disponibilizada no wikipedia, além de muito mais informação (o link que coloquei é o do wikipedia em inglês, aqui está o em português, porém o em inglês é muito mais completo).

Led Zeppelin, The Doors, Bob Dylan, Beatles, Frank Zappa, entre muitos outros grupos e artistas recusaram convite para tocar em Woodstock, e acabaram deixando de fazer parte de um festival histórico. Os organizadores os contataram, porém cada um deles teve sua razão para recusar. Achei curiosa (no mínimo) a razão pela qual os Beatles acabaram não tocando: contatado pelos organizadores, John Lennon disse que não tocaria a não ser que deixassem a Plastic Ono Band, banda de Yoko Ono (também nunca ouvi falar) tocar. Os organizadores, felizmente ou infelizmente, recusaram a "oferta".

Certamente existe um imenso acervo de histórias que nasceram no festival de Woodstock de 1969. Para que quiser conhecer mais, há um aclamado documentário produzido por Michael Wadleigh intitulado Woodstock. O filme, inclusive, faturou o Oscar de "melhor documentário" em 1971.

sábado, 18 de outubro de 2008

Festivais - Monterey Pop


Os grandes festivais de rock, que atualmente são tão comuns, têm sua origem e tomaram a forma como os conhecemos hoje justamente durante a década de sessenta. A adesão dos jovens (nem só deles) à música rock (que começara, de fato, a se firmar) era tão grande que alguém teve a brilhante idéia de juntar, num só evento, os principais e maiores nomes da música a um público ávido que chegava facilmente a centenas de milhares de pessoas. Diversos festivais dessa época ficaram para a história - e não apenas para a história da música. A quebra de conceitos representada por aquela nova concepção de música simbolizava um clamor por mudança gritado pela juventude. Muitos dos festivais eram, além de celebração e diversão, um veemente protesto contra as amarras sociais; simbolizavam libertação, um brado pelo fim das guerras, pelo fim da intolerância, por "paz e amor", expressão que acabou por se tornar um verdadeiro slogan da época .
Dentre os tantos festivais que se proliferavam na década de sessenta quanto mais ela chegava ao seu fim, alguns se despontaram e são comentados e lembrados com nostalgia até os dias de hoje. Este simpático texto de Toninho Buda, aliás, aponta a importância dos festivais de rock, cujo padrão espacial inclusive influenciou o padrão de diversos eventos religiosos ou políticos. Vou falar, neste post e nos próximos, sobre três dos mais influentes e importantes festivais da década de 60: O Monterey Pop Festival; o festival de Woodstock e o Altamont Free Concert.

MONTEREY POP FESTIVAL (1967)

Pôster de divulgação do Monterey Pop Festival


O Monterey Pop Festival aconteceu em 1967, em Monterey, Califórnia, e foi pioneiro em vários aspectos. Foi o primeiro festival de rock a ser, de fato, amplamente divulgado e a atrair um público gigantesco - cerca de 200,000 pessoas no total (o festival durou três dias). Na realidade, há controvérsias quanto a esse número, já que, segundo Lou Adler, um dos realizadores do festival, a capacidade do local era de 10.000 pessoas, porém em determinado momento eles teriam retirado as cercas e aberto para quem estivesse ali, mas enfim... Foi também no Monterey Pop que Jimi Hendrix - indicado por Paul Mccartney, que já tinha se impressionado ao vê-lo tocar na Inglaterra - e The Who tiveram sua primeira grande exposição nos EUA; e foi lá que Janis Joplin, com sua Big Brother and the Holding Company, fez sua primeira apresentação para um grande público. O local em que houve o festival já era conhecido como "point" de festivais de música, pois já havia o "Monterey Jazz Festival" e o "Monterey Folk Festival". Uma das intenções dos realizadores do Monterey Pop foi validar a música rock como arte, como a música jazz e folk já eram valorizadas. Os diversos artistas que se apresentaram no festival, a exceção de Ravi Shankar, o fizeram de graça, com toda a renda sendo revertida para caridade.

O Monterey Pop Festival foi, na verdade, o primeiro grande festival de rock que houve. Foi deste festival, aliás, o palco da lendária apresentação de Jimi Hendrix que, além de o consagrar perante um grande público, ficou famosa por culminar com ele inflamando a sua guitarra num ato que ensadeceu a platéia:







Aqui está a relação completa dos artistas que se apresentaram:


Sexta-feira, 16 de junho:
The Association
The Paupers
Lou Rawls
Beverly
Johnny Rivers
Eric Burdon & The Animals
Simon and Garfunkel

Sábado, 17 de junho
Canned Heat
Big Brother and the Holding Company Country Joe and the Fish
Al Kooper
The Electric Flag
Quicksilver Messenger Service
Steve Miller Band
The Electric Flag
Moby Grape
Hugh Masekela
The Byrds
Laura Nyro
Jefferson Airplane
Booker T. & the MG's
Otis Redding


Domingo, 18 de junho

Ravi Shankar
The Blues Project
Big Brother and the Holding Company
The Group With No Name
Buffalo Springfield
The Who
The Jimi Hendrix Experience
Grateful Dead
Scott McKenzie
The Mamas & The Papas


Algumas curiosidades, retiradas deste site:



  • Ravi Shankar, antes de sua apresentação estava nervoso, pois o público não havia sido muito amável com artistas que não cantavam rock (Laura Nyro deixou o palco em lágrimas, um dia antes). Porém, Shankar, com sua cítara, manteve o público cativo durante mais de três horas, acompanhando sua apresentação numa reverência quase mística. Suas ragas indianas, adequadas àquele momento mágico, deixaram a platéia hipnotizada.

  • O Big Brother (banda de Janis) atrapalhou-se um pouco com toda a tecnologia de palco, até então desconhecida por eles, porém, Janis, cantando o clássico "Ball and Chain", batia os pés, gritava, gemia, sacudia o corpo e incendiava o ar.


  • Jimi Hendrix foi chamado para tocar em Monterey por indicação de Paul McCartney, que tinha lhe visto tocando e ficara impressionado.


  • Peter Townsend (The Who) e Jimi Hendrix discutiram nos bastidores. A briga era pra saber quem iria tocar primeiro. Decidiram jogando uma moeda e o Who ganhou a vez. A apresentação do The Who foi uma explosão de som e fúria. Townsend destruindo sua guitarra, os amplificadores, o palco, deixando a platéia em delírio.


  • Jimi Hendrix subiu ao palco logo depois do The Who, superando o grupo em impacto e violência. Hendrix toca sua guitarra nas costas e com os dentes. No final, joga-a no chão, ajoelha-se e a encharca com fluido de isqueiro. Um fósforo e a chama se ergue, consumindo a guitarra, que ainda urra e geme suas últimas notas, a todo volume, através dos amplificadores, até se transformar em cinzas.



  • Em Monterey, foi a última apresentação do The Byrds com David Crosby, que logo depois deixou o grupo.

Para quem quiser se aprofundar mais, há um excelente documentário, dirigido por D. A. Pennebaker. Boa também esta entrevista feita com Lou Adler (um dos criadores do festival) no ano passado, quando o Monterey Pop comemorou quarento anos.