domingo, 30 de novembro de 2008

Martin Scorcese, Rolling Stones e Bob Dylan

Martin Scorsese entre os Rolling Stones

Martin Scorsese (reconhecido diretor de cinema, em cuja filmografia figuram clássicos como Táxi Driver e Touro Indomável) nunca escondeu ser fã de artistas célebres do rock. É comum ouvirmos canções dos Rolling Stones, por exemplo, ambientando seus filmes como trilha sonora. Este post, na verdade, é uma dica para dois documentários imperdíveis que ele dirigiu recentemente, respectivamente sobre Bob Dylan e os Rolling Stones: "No Direction Home: Bob Dylan" e "Shine a Light".


Capa de "No Direction Home - Bob Dylan"


Não é exagero afirmar que assistir esse documentário pode ser suficiente para tornar fã alguém que nunca sequer ouviu falar de Bob Dylan. As quase três horas de duração do filme não se tornam monótonas de maneira alguma, e em momento algum; entrevistas,depoimentos, cenas de bastidores, de shows, de músicas, se intercalam de um modo tão envolvente que, mesmo após terminar o filme ainda deixa um gostinho de "quero-mais".
O filme não aborda a vida inteira de Dylan - seriam preciso 20 documentários para isso - mas cobre a que é, talvez, a melhor fase de sua vida e carreira: Sua chegada anônima à Nova York, em 1961, e sua "aposentadoria" de shows devido a um acidente de moto em 1966, já como um dos maiores astros da música da década de 1960.
Um dos aspectos mais interessantes que o filme aborda é o preconceito que Bob Dylan sofreu após sua revolucionária decisão de "eletrificar" sua música (até então tida como "folk"), revolucionando tanto o folk quanto o rock. A amostra abaixo é a sequência final do filme, mas a escolhi para mostrar aqui porque, além de ser uma das melhores versões de Like a Rolling Stone que já ouvi, evidencia justamente esse preconceito: percebam como alguém grita "Judas" pouco antes de ele começar a tocar; a comparação seria por ele ter "traído" o "movimento folk".



Continua no próximo post...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Dica - O Circo dos Rolling Stones

Capa do DVD: The Rolling Stones Rock & Roll Circus

The Rolling Stones Rock and Roll Circus: O lançamento em DVD é uma dica infalível para você que adora - ou não conhece, e quer saber o porque de tanto auê - o bom e velho rock n' roll dos anos sessenta. O projeto nasceu de uma idéia de Mick Jagger de gravar algo diferente, que não seguisse aquele velho padrão de puros shows ao vivo - misturou-se então música e circo. Números circenses intercalaram as apresentações de diversos artistas convidados, antes da apresentação final dos Rolling Stones. Cercado de polêmicas sobre o seu lançamento ou não-lançamento, o evento foi gravado em 1968 para ser um especial de televisão; porém, acabou sendo lançado somente em 1996, em CD e Vìdeo. Na época, os Rolling Stones alegaram que, como tiveram que subir ao palco de manhã cedo, após uma madrugada inteira de problemas técnicos e atrasos entre as apresentaçoes, estavam tão cansados que sua performance foi abaixo do nível aceitável por eles. À esta altura, tanto o público quanto os Rolling Stones estavam de fato exaustos.
O time de artistas escalados para tocar incluía nomes como The Who, Jethro Tull (ainda desconhecidos), Taj Mahal, Marianne Faithfull.... Mas o mais interessante mesmo foi um grupo, formado especialmente para tocar neste circo, chamado The Dirty Mac. Esta banda, ou "superbanda", como costuma ser chamada, contava com Jonh Lenon nos vocais e guitarra; Eric Clapton na guitarra; Keith Richards, dos Rolling Stones, no baixo; e Mitch Mitchel (baterista de Jimi Hendrix) na bateria. Na época, John Lennon ainda estava nos Beatles, e esta fora, de fato, a sua primeira apresentação pública sem os Beatles até então. Tocaram a canção Yer Blues, de Lennon, que está presente no Álbum Branco dos Beatles, numa performance sensacional. Depois da música, fizeram uma "jam" com Yoko Ono e o violinista Irvy Gitlis - um ato que, ao menos para mim, fez lembrar que, apesar de tudo, se tratava de um circo. A "jam", na verdade, é um blues extendido com violino e esdrúxulos vocais de Yoko Ono; acabou sendo separada em uma faixa, chamada "Wholle Lotta Yoko".

The Dirty Mac toca Yer Blues, de John Lennon. Poupei os inocentes frequentadores deste blog da continuação com Yoko Ono, porém, para os curiosos mórbidos, não é difícil encontrar no Youtube.

Em 2004, foi lançada uma versão em DVD remasterizada, que possui alguns bons extras. É interessante notar também, nas gravações, que introduções das músicas apresentadas por Mick Jagger ou John Lennon - ou os dois - sugerem uma amizade entre os dois astros. Isso ajuda a desmistificar uma idéia que existe de que havia uma rivalidade, uma animosidade entre os Beatles e os Rolling Stones. Abaixo a lista completa de apresentações musicais do DVD oficial, que são, na verdade, intercaladas na edição por números circenses, e de introdução aos artistas por membros dos Rolling Stones - a não ser a introdução dos próprios Rolling Stones, feita por John Lennon:

  • Song For Jeffrey - Jethro Tull
  • A Quick one While He's Away - The Who
  • Ain't That a Lot Of Love - Taj Mahal
  • Something Better - Marianne Faithfull
  • Yer Blues - The Dirty Mac
  • Wholle Lotta Yoko - Yoko Ono e Ivry Gitlis com The Dirty Mac
  • Jumping Jack Flash - The Rolling Stones
  • Parachute Woman - The Rolling Stones
  • No Expectations - The Rolling Stones
  • You Can't Always Get What You Want - The Rolling Stones
  • Sympathy For The Devil - The Rolling Stones
  • Salt Of The Earth - The Rolling Stones

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Led Zeppelin em turnê em 2009?

Turnê do Led em 2009? Só com outro nome e sem Robert Plant

Após o seu fim, os integrantes da cultuadíssima Led Zeppelin só se juntaram usando esse nome raríssimas vezes. Uma dessas foi num polêmico show único realizado em Londres, no ano passado, no qual o limite de público foi 20,000 pessoas e era preciso ser sorteado para poder pagar quase 500 reais num ingresso - que, depois do sorteio, passou a valer até 4 mil reais. Na apresentação para poucos, o único integrante que diferia da formação clássica do grupo era o baterista Jason Bonham ,filho do baterista original John Bonham. Pois, o Led Zepellin vinha demonstrando interesse em realizar uma nova turnê em 2009, o que seria um verdadeiro deleite para seus fãs, espalhados pelo mundo inteiro. Porém,como o único que não parecia estar empolgado com essa turnê era justamente o vocalista Robert Plant, segundo notícia do Cifraclub, o Led decidiu usar outro nome e procurar outro vocalista a fim de cair mesmo na estrada; já houve ensaios do grupo com alguns vocalistas, inclusive Steven Tyler, do Aerosmith. 


Ingtegrantes do Led Zeppelin em 1969. Da esquerda para a direita: Robert plant, vocalista; Jimmy Page; guitarrista; John Bonham, baterista; John Paul Jones, baixista. 

Apesar do auge do Led Zeppelin ter sido a década de 70, eles surgiram justamente no contexto musical da década de 1960; seu primeiro disco foi lançado em 1969. A legião de fãs que cultua o grupo de forma exorbitante até hoje é impressionante, mas não é à toa. Eles foram um dos grupos pioneiros moldar o rock num estilo mais pesado, inovador, que viria a influenciar estilos como o heavy metal - foram eles, aliás, os primeiros a receber esse rótulo. Porém o som do Led Zeppelin, salvo algumas características do seus últimos discos,  não se parece em nada com estereótipo que se tem de Heavy Metal hoje em dia; eles nunca deixaram de lado suas raízes no blues e no rock clássico. Toda a sua discografia é sensacional,  e sua sonoridade foi se transformando com o passar do tempo, porém sem nunca deixar de manter certas características peculiares. Durante a década de 1970, milhões e milhões de cópias de discos eram vendidas, enquanto gigantescos e intermináveis shows do Led Zeppelin lotavam estádios inteiros e tinham ingressos rapidamente esgotados; a performance dos quatro homens no palco era mesmo arrebatadora, todos são músicos fenomenais.  Infelizmente, em 1980 o baterista John Bonham morreu asfixiado pelo própiro vômito após um coma alcoólico. Depois disso, os integrantes restantes afirmaram que seria impossível continuar com a banda; o Led Zeppelin acabou e cada um seguiu com sua carreira solo. Lançaram, entre 1969 e 1979, nove álbuns (excluindo coletâneas, discos ao vivo, relançamentos, etc.) :

  • 1969 - Led Zeppelin #6 RU, #10 EUA, Vendas nos EUA: 11,000,000
  • 1969 - Led Zeppelin II #1 RU, #1 EUA, Vendas nos EUA: 12,000,000
  • 1970 - Led Zeppelin III #1 RU, #1 EUA, Vendas nos EUA: 6,000,000
  • 1971 - Led Zeppelin IV (sem título: chamado também: "Four Symbols", "ZoSo") #1 RU, #2 USA, Vendas nos EUA: 22,000,000
  • 1973 - Houses of the Holy #1 RU, #1 EUA, Vendas nos EUA: 11,000,000
  • 1975 - Physical Graffiti #1 RU, #1 EUA, Vendas nos EUA: 15,000,000
  • 1976 - Presence #1 RU, #1 EUA, Vendas nos EUA: 3,000,000
  • 1976 - The Song Remains the Same live performances from 1973 tour) #1 RU, #2 EUA, Vendas nos EUA: 4,000,000
  • 1979 - In Through the Out Door #1 RU, #1 EUA, Vendas nos EUA: 6,000,000

  • Stairway To Heaven para fechar o post:

    Vìdeo do filme The Song Remais The Same

    quarta-feira, 19 de novembro de 2008

    Altamont Free Concert (Parte 2)

    A organização da segurança do Altamont Free Concert foi confusa e malfeita e, até hoje, gera muitas controvérsias sobre porque de fato os Hells Angels fizeram a segurança e como foram as negociações. A certeza é que eles, desse grupo de motoqueiros chamado Hells Angels (ou Anjos do Inferno) acabaram "cobrindo" a função de orientar e policiar. Diz-se que os Angels receberam um pagamento de 500 dólares em cerveja (eles gostavam de cerveja) pelo serviço prestado.

    Os Hells Angels, com suas jaquetas de couro e motos estacionadas, fazem a "segurança" do Altamont Free Concert

    Acontece que os Hells Angels são, em geral, seres brutos e truculentos, que batiam com tacos de sinuca naqueles que tentavam subir no palco... Enfim, o fato é que, culpa dos Hells Angels ou de quem quer que seja, a segurança foi muito malfeita. A confusão foi imensa; a impressão que se tem é de que não havia ordem ou controle algum sobre todas aquelas pessoas, e conforme o tempo foi passando, os próprios Angels iam ficando mais e mais bêbados e agitados, e a platéia, mais violenta. Percebam no vídeo do Jefferson Airplane do post anterior que acontece uma discussão, no palco mesmo, entre um membro da banda e um membro dos Angels. Isso porque um membro do Jefferson Airplane, Martin Bali, fora derrubado inconsciente por um membro dos Hells Angels. No vídeo, a vocalista diz (tradução livre): "É preciso de gente como os Angels para impedir as pessoas de agir dessa maneira (...) mas os próprios Angels... Não se bate em pessoas assim, por nada". Depois do incidente com Martin Balin, o Grateful Dead se recusou a tocar, e não tocou mesmo. Conforme o dia foi passando, as confusões só pioraram.
    Porém, como tudo que está ruim pode ficar muito pior, o incidente que marcaria aquela noite ainda iria acontecer, mais tarde, durante a apresentação dos Rolling Stones. Meredith Hunter, um jovem negro, portava uma pistola e, em um dos tumultos, foi esfaqueado até a morte por um membro dos Hells Angels chamado Alan Passaro. Após inúmeras polêmicas, Passaro foi inocentado alegando legítima defesa; os membros do Hells Angels, em sua defesa, alegam que Passaro apenas desferiu as facadas após Hunter ter sacado sua pistola em meio à tamanha multidão. Em 2005, inclusive, houve uma revisão do caso em que uma versão especial do filme que capturou a cena, mais detalhada e lenta, foi feita para a Polícia, que reconfirmou a versão dos Angels de que Hunter havia sim sacado a arma antes das facadas. Acredita-se que a suposta intenção de Hunter seria matar Mick Jagger.

    Em destaque Meredith Hunter, esfaqueado até a morte por um membro dos Hells Angels

    A repercussão dos incidentes do festival foi gigantesca. A revista Rolling Stone lançou, na época, uma edição falando praticamente apenas do festival e criticando de todas as formas os Rolling Stones e a precária organização do evento. Na reportagem consta uma entrevista com David Corsby, cujo trecho foi retirado deste site:
    "Diz Crosby: 'Acho que os Rolling Stones ainda estão em 1965. Eles não sabem que uma força para segurança não é mais uma necessidade. Não eram necessários os Hell's Angels. Não estou falando mal deles, até mesmo porque não é saudável, e afinal, eles apenas fizeram o que se espera deles. Os Stones não conhecem os Hell's Angels. Para eles, os Angels é um meio caminho entre Peter Fonda e Denis Hooper e isto não é a realidade... Não considero os Angels o principal erro. Apenas o mais óbvio. Considero o principal erro sendo pegar o que essencialmente seria uma festa e transformá-la em uma ego trip. (...) Tenho certeza que eles não entenderam o que eles fizeram no último sábado. Acredito que eles tem uma visão exagerada de sua importância. Acho que eles estão numa ego trip grotesca. Uma trip essencialmente negativa, principalmente seus dois líderes. Conversei várias vezes com o pessoal dos Stones. Eu os considero esnobes."

    O saldo do festival acabou sendo de -2 vidas, porque houve 4 mortes (além de Hunter, duas pessoas morreram atropeladas e uma morreu afogadas), porém houve também 2 nascimentos.
    Ah...fiquem com Sympathy for the Devil, Under My Thumb e interrupções (demora para carregar, mas vale a pena):


    terça-feira, 11 de novembro de 2008

    Altamont Free Concert (Parte 1)

    Ainda continuando os posts sobre festivais, vou falar agora sobre o que é talvez o mais infame festival da história da música: o Altamont Free Concert.


    Trailer do filme Gimme Shelter, documentário sobre o Altamont Free Concert

    No trailer acima, em determinado momento se reproduz a fala de um locutor de rádio: " Deixe-me repetir: O show gratuito dos Rolling Stones vai ser amanhã, na estrada de Altamont. Aparentemente, uma das coisas mais difíceis no mundo é se promover um show de graça".
    Em 1969, Depois de uma tour de muito sucesso pelos EUA, os Rolling Stones andavam sendo "acusados" de lucrar com tantos shows... Resolveram então anunciar que fechariam a turnê com um show gratuito, em São Francisco; um modo de agradecer o seu público tão fiel e adorável. Convidaram Santana, Jefferson Airplane, The Flying Burrito Brothers, Crosby, Stills, Nash and Young e The Grateful Dead para tocar no grande show - todos artistas top de linha, muito famosos à época - e, claro, eles próprios, os Rolling Stones, fechariam a noite como atração principal. 300.000 pessoas compareceram a esse festival que tinha tudo para dar certo e ser um sucesso, mas que infelizmente acabou em desastre. Toda a aura que circulava em torno do Rock, dos Hippies, dos adeptos da contracultura, caiu por terra nesse show, que acabou mostrando que os que seguiam tal rebeldia protestante (não a religião, pelo amor de Deus), que clamavam por paz, eram pessoas talvez não tão diferentes; que podiam ser tão agressivas e violentas quanto quaisquer outras. Os fatídicos acontecimentos do festival (calma, vou especificar quais foram mais adiante) ainda deram força ao antigo discurso de que a música Rock estava ligada ao vandalismo, à rebeldia sem causa, etc. Ao contrário do festival de Woodstock, cujo sucesso simbolizou o ápice de todos esses movimentos alternativos, o Altamont Free Concert entrou na lista dos infames acontecimentos que, no fim da década de 60, simbolizaram o declínio e a desmoralização da contracultura, do movimento hippie e do rock (na "lista" estão também casos como os assassinatos da seita de Charles Manson e seus seguidores, que, querendo ou não, abalaram a reputação dos Beatles; e a morte prematura de artistas-símbolo como Brian Jones, Jimi Hendix, Janis Joplin eJim Morrison). Mas enfim, voltando ao festival de Altamont, dê uma olhada num trecho da apresentação do Jefferson Airplane e perceba o caos e a desordem. Tiveram que interromper a apresentação devido a confusões violentas e tumultos:


    Continua no próximo post...