sábado, 18 de outubro de 2008

Festivais - Monterey Pop


Os grandes festivais de rock, que atualmente são tão comuns, têm sua origem e tomaram a forma como os conhecemos hoje justamente durante a década de sessenta. A adesão dos jovens (nem só deles) à música rock (que começara, de fato, a se firmar) era tão grande que alguém teve a brilhante idéia de juntar, num só evento, os principais e maiores nomes da música a um público ávido que chegava facilmente a centenas de milhares de pessoas. Diversos festivais dessa época ficaram para a história - e não apenas para a história da música. A quebra de conceitos representada por aquela nova concepção de música simbolizava um clamor por mudança gritado pela juventude. Muitos dos festivais eram, além de celebração e diversão, um veemente protesto contra as amarras sociais; simbolizavam libertação, um brado pelo fim das guerras, pelo fim da intolerância, por "paz e amor", expressão que acabou por se tornar um verdadeiro slogan da época .
Dentre os tantos festivais que se proliferavam na década de sessenta quanto mais ela chegava ao seu fim, alguns se despontaram e são comentados e lembrados com nostalgia até os dias de hoje. Este simpático texto de Toninho Buda, aliás, aponta a importância dos festivais de rock, cujo padrão espacial inclusive influenciou o padrão de diversos eventos religiosos ou políticos. Vou falar, neste post e nos próximos, sobre três dos mais influentes e importantes festivais da década de 60: O Monterey Pop Festival; o festival de Woodstock e o Altamont Free Concert.

MONTEREY POP FESTIVAL (1967)

Pôster de divulgação do Monterey Pop Festival


O Monterey Pop Festival aconteceu em 1967, em Monterey, Califórnia, e foi pioneiro em vários aspectos. Foi o primeiro festival de rock a ser, de fato, amplamente divulgado e a atrair um público gigantesco - cerca de 200,000 pessoas no total (o festival durou três dias). Na realidade, há controvérsias quanto a esse número, já que, segundo Lou Adler, um dos realizadores do festival, a capacidade do local era de 10.000 pessoas, porém em determinado momento eles teriam retirado as cercas e aberto para quem estivesse ali, mas enfim... Foi também no Monterey Pop que Jimi Hendrix - indicado por Paul Mccartney, que já tinha se impressionado ao vê-lo tocar na Inglaterra - e The Who tiveram sua primeira grande exposição nos EUA; e foi lá que Janis Joplin, com sua Big Brother and the Holding Company, fez sua primeira apresentação para um grande público. O local em que houve o festival já era conhecido como "point" de festivais de música, pois já havia o "Monterey Jazz Festival" e o "Monterey Folk Festival". Uma das intenções dos realizadores do Monterey Pop foi validar a música rock como arte, como a música jazz e folk já eram valorizadas. Os diversos artistas que se apresentaram no festival, a exceção de Ravi Shankar, o fizeram de graça, com toda a renda sendo revertida para caridade.

O Monterey Pop Festival foi, na verdade, o primeiro grande festival de rock que houve. Foi deste festival, aliás, o palco da lendária apresentação de Jimi Hendrix que, além de o consagrar perante um grande público, ficou famosa por culminar com ele inflamando a sua guitarra num ato que ensadeceu a platéia:







Aqui está a relação completa dos artistas que se apresentaram:


Sexta-feira, 16 de junho:
The Association
The Paupers
Lou Rawls
Beverly
Johnny Rivers
Eric Burdon & The Animals
Simon and Garfunkel

Sábado, 17 de junho
Canned Heat
Big Brother and the Holding Company Country Joe and the Fish
Al Kooper
The Electric Flag
Quicksilver Messenger Service
Steve Miller Band
The Electric Flag
Moby Grape
Hugh Masekela
The Byrds
Laura Nyro
Jefferson Airplane
Booker T. & the MG's
Otis Redding


Domingo, 18 de junho

Ravi Shankar
The Blues Project
Big Brother and the Holding Company
The Group With No Name
Buffalo Springfield
The Who
The Jimi Hendrix Experience
Grateful Dead
Scott McKenzie
The Mamas & The Papas


Algumas curiosidades, retiradas deste site:



  • Ravi Shankar, antes de sua apresentação estava nervoso, pois o público não havia sido muito amável com artistas que não cantavam rock (Laura Nyro deixou o palco em lágrimas, um dia antes). Porém, Shankar, com sua cítara, manteve o público cativo durante mais de três horas, acompanhando sua apresentação numa reverência quase mística. Suas ragas indianas, adequadas àquele momento mágico, deixaram a platéia hipnotizada.

  • O Big Brother (banda de Janis) atrapalhou-se um pouco com toda a tecnologia de palco, até então desconhecida por eles, porém, Janis, cantando o clássico "Ball and Chain", batia os pés, gritava, gemia, sacudia o corpo e incendiava o ar.


  • Jimi Hendrix foi chamado para tocar em Monterey por indicação de Paul McCartney, que tinha lhe visto tocando e ficara impressionado.


  • Peter Townsend (The Who) e Jimi Hendrix discutiram nos bastidores. A briga era pra saber quem iria tocar primeiro. Decidiram jogando uma moeda e o Who ganhou a vez. A apresentação do The Who foi uma explosão de som e fúria. Townsend destruindo sua guitarra, os amplificadores, o palco, deixando a platéia em delírio.


  • Jimi Hendrix subiu ao palco logo depois do The Who, superando o grupo em impacto e violência. Hendrix toca sua guitarra nas costas e com os dentes. No final, joga-a no chão, ajoelha-se e a encharca com fluido de isqueiro. Um fósforo e a chama se ergue, consumindo a guitarra, que ainda urra e geme suas últimas notas, a todo volume, através dos amplificadores, até se transformar em cinzas.



  • Em Monterey, foi a última apresentação do The Byrds com David Crosby, que logo depois deixou o grupo.

Para quem quiser se aprofundar mais, há um excelente documentário, dirigido por D. A. Pennebaker. Boa também esta entrevista feita com Lou Adler (um dos criadores do festival) no ano passado, quando o Monterey Pop comemorou quarento anos.

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